
Com o EP de estreia lançado no mesmo ano da sua formação oficial e da sua discreta dissipação, os Marks eram, em 2014, um dos mais promissores nomes do underground Algarvio.
Composta por Mauro Santos na bateria, Hugo Costa e André Vieira nas guitarras, Michael Guerreiro na voz e Tiago Coelho no baixo, a banda tocava um hardcore orelhudo com fortes influências da vertente “caótica” do género. The Dillinger Escape Plan, Norma Jean, The Chariot, ou até os nacionais Don’t Disturb My Circles podem ser usados como referência sonora após o primeiro contacto com o primeiro trabalho de estúdio do grupo.
Quatro temas compõem esse primeiro (e único) trabalho, gravado e misturado nos estúdios Leviathan Records por Sebastian Matias, de nome “Theoriis”. Os temas de “Theoriis” debruçam-se liricamente sobre os temas da morte, vida, guerra e paz com o vocalista Michael Guerreiro a entregar emoção e agressividade em doses certas e a complementar na perfeição as palavras diferidas.

Musicalmente, “Theoriis” é original e refrescante quando comparado a outros produtos nacionais, balanceado com mestria a energia contagiosa do hardcore com passagens e partes dissonantes e em contratempo celebrizadas pelo movimento “mathcore”, havendo ainda espaço para passagens jazz nos temas “Vita” (o mais pessoal a nível lírico) e “Pacem”. Bastante orelhudo e desafiante este EP é uma boa proposta para quem procura “algo mais” no hardcore, mas para quem The Dillinger Escape Plan é “demasiado”. Não querendo criar paralelismos exagerados entre o grupo norte-americano e a banda Algarvia, é evidente a influência da banda de New Jersey em temas como “Bellum” (provavelmente o mais sólido do conjunto).
Uma última palavra de destaque para o fantástico trabalho das guitarras que nos brindam com promenores bastante interessantes e geniais ao longo de todos os temas.
Como já referido, os Marks conheceram um final discreto e precose, com poucos concertos no currículo e uma mudança de formação após o lançamento de “Theoriis”, com José Marques a assumir o lugar de guitarrista deixado vago por Hugo Costa.
Os membros de Marks continuam a ser bastante ativos dentro da “cena” nacional com o baterista Mauro Santos a estar envolvido em alguns projectos de black metal (sendo Ruach Raah o mais ativo) e tendo estado presente em grupos como Creation Undone, Shoryuken ou Intricacy (na mesma “onda” de Marks com José Marques na voz); o ex-guitarrista Hugo Costa toca atualmente na banda de metalcore Villain Outbreak, André Vieira esteve recentemente nos Heaven Can Hate e Michael Guerreiro é hoje em dia um fotógrafo dedicado em ajudar as bandas locais.
É uma pena a não continuidade de um projecto diferente e extremamente promissor, vale o facto de terem feito as coisas de forma diferente e terem apostado, em primeiro lugar, na gravação de obra de qualidade e que ficará para posterioridade.