
Entrevista a Venomous
Diretamente do Brasil chegam os Venomous com a sua sonoridade ora mais agressiva, ora mais melódica, sem nunca discurar as raizes!
No activo desde 2016, este quinteto , que já veio a Portugal, fala-nos um pouco do seu percurso.

1. Podem-nos contar a história dos Venoumous? Como se formou a banda?
O Venomous surgiu a partir da amizade entre os integrantes que precede os 4 anos de existência da banda. Nós cinco somos amigos de longa data e a relação sempre foi fortalecida pelo companheirismo, confiança e musicalidade. Sempre estivemos envolvidos com a música e com o cenário do heavy metal ao longos desses anos, compartilhando os mesmos sonhos de viver do que amamos e sempre tocando juntos, porém em projetos distintos. Nos conheciamos musicalmente e sempre compartilhamos ideias de composição nesses anos de amizade. Foi então que decidimos nos unir de uma vez e transformar aquilo que mais amavamos em algo ambicioso e profissional, surgindo, então, o Venomous. (Lucas)
2. Apesar de se basearem no melodic death metal cantado em inglês, a vossa apresenta elementos de outros géneros como bossa nova, prog, ou heavy metal mais melódico e até letras em Brasileiro. Como surgiram nas vossas composições?
Desde o primeiro disco (Defiant, 2018) procuramos nos reinventar na forma de compôr, seja individualmente falando ou em grupo. Músicas como "Cycle's End" e "Green Hell" são exemplos claros de que, de alguma forma, temos esta tendência de trazer à tona nossas origens culturais, sejam elas com um chorinho ou com rítmicas e levadas características de gêneros regionais brasileiros. Já o heavy metal melódico é algo que corre em nossas veias desde sempre. Ele é o ingrediente principal quando sentamos para trabalhar nas composições, e como a banda é formada por músicos com gostos bem diversificados, o toque final é justamente como conectamos nossas ideias a fim de criar algo bem fora do comum. O conceito deste novo álbum (The Black Embrace, 2019) nos permitiu expressar vivencias pessoais que contribuiram para a elaboração deste trabalho. Nele trouxemos faixas com sonoridades únicas como "Heirs of a Dream", cujo o final é cantado inteiramente em português, "Zumbi", que conta com uma percussão logo no ínicio, e "Rise", que é talvez a música mais complexa do disco, seguindo uma veia muito mais prog com tempos quebrados e rítmicas bem diferentes. (Renato)
3. Como descreveriam a "cena musical" de São Paulo? Que géneros reinam e que dificuldades enfrentam?
A cena musical de bandas independentes de São Paulo vem se fortalecendo cada vez mais com o passar dos anos. Como dito anteriormente, já estamos na estrada há um bom tempo e acompanhamos de perto essa evolução. Falando especificamente do metal extremo, as bandas entendem cada vez mais que a união é algo importante e que seu trabalho deve ser valorizado, profissionalizando cada vez mais e trazendo composições de alto nível. O Brasil é um país culturalmente miscigenado, com inúmeros estilos e gêneros musicais de diferentes origens, portuguesa, árabe, africana, indiana, japonesa, sertaneja, metropolitana e muito mais. Nesse contexto alguns estilos prevalecem mais do que outros, ganhando mais espaço na mídia e no gosto popular e infelizmente só esses recebem os incentivos devidos do poder público e corporativo para desenvolver trabalhos no país. (Lucas)
4. Já fizeram pelos menos duas tours europeias. Que balanço fazem dessas tours e que diferenças encontraram entre a "cena" europeia e a "cena" brasileira?
Existem muitas diferenças entre a cena europeia e a cena brasileira. No Brasil as bandas tem muita dificuldade para alcançar uma estrutura profissional, para produzir um material de qualidade e fazer esse material alcançar seu público, e isso trouxe problemas para nós principalmente nos primeiros meses de banda. Em nossa última digressão viajamos 5 mil quilômetros em estradas europeias passando por 6 grandes países e tocando em locais extremamente distintos. No Brasil, essa logística teria um custo muito maior para rodar apenas nos estados vizinhos e seria praticamente inviável, sendo muitas vezes necessário optar pelo transporte aéreo para ir apenas a

cidades da região sudeste, por exemplo, região onde fica São Paulo. Quanto aos eventos em si, vemos que o público europeu apoia muito as bandas de metal, consumindo o merchandising, participando ativamente do show elevando a qualidade do espetáculo pela interação com as bandas locais. (Renato)
5. Uma dessas tours trouxe-vos a Portugal. Como descrevem a vossa experiência por cá?
A experiência em Portugal foi simplesmente maravilhosa, todos os integrantes da banda desenvolveram um carinho muito grande pelo período em que ficamos no país. Tivemos shows incríveis e uma receptividade extremamente calorosa. A proximidade e semelhança da cultura portuguesa com a cultura brasileira fez com que muitas vezes nos sentíssimos em casa durante nossa passagem por Portugal. Estivemos no Algarve, Porto, Lisboa, Braga, Ancas e Covilhã e mal podemos esperar para voltar e encontrar os fãs e amigos que fizemos durante nossa estada. (Lucas)
6. Visualmente, a cobra, ou várias cobras são símbolos presentes em toda a vossa arte. Serve apenas de complemento ao nome, ou tem um significado especial?
As cobras estão presentes em todas as nossas artes, sejam elas capas de disco ou estampas de camiseta por exemplo. Visualmente e simbolicamente esse animal é impactante e intimidador, perigoso. A capa de The Black Embrace (2019) traz um lado mais sombrio às cobras quando abordada com o conceito do álbum. A mulher presente na capa esta envolta por duas delas, dando significado ao "abraço negro" que abordamos no disco. Durante a fase de composição e produção desse trabalho, cada um de nós passou por problemas pessoais que serviram de inspiração para a conclusão das músicas. Por mais que a imagem da cobra simbolize perigo, medo ou imponência, eu as vejo de uma forma muito mais ampla. Por exemplo, a cobra está presente no caduceu, símbolo da medicina, trazendo portanto a dualidade de significados deste animal, cujo veneno pode ajudar a desenvolver curas. (Renato)
7. É sempre uma pergunta ingrata de se responder, mas têm algum tema em especial do qual se sintam mais orgulhosos? Algum tema que tenha aberto mais portas para a banda?
Nós temos muito orgulho de tudo que temos feito em nossa caminhada, principalmente por sabermos que nada foi fácil e que conseguimos passar por cada etapa cada vez mais fortes e conquistando nosso espaço. Hoje já temos com dois CDs lançados, duas turnês europeias, shows com grandes bandas de renome internacional, como Jinjer, Vader e Cavalera Conspirancy e muitas outras conquistas. No entanto, nessa caminhada, algo que nos foi de muita importância, dado o grande alcance que tivemos e a ligação emocional que temos com essa banda, foi o tributo que gravamos à banda brasileira Angra com a nossa versão de "Nothing to Say", com a participação das grandes vocalistas Fernanda Lira, do Nervosa, e Mayara Puertas, do Torture Squad. Este trabalho tomou grandes proporções, foi escutado, comentando e compartilhado em diversos canais midiáticos, inclusive pelos próprios membros do Angra e foi também uma linda homenagem ao nosso querido maestro Andre Matos, que infelizmente nos deixou no ano passado. Por isso este tributo carrega muitos significados para a banda. (Lucas)

